terça-feira, 24 de julho de 2012

"Tô aqui, contigo"








Descobri, após meses de procura, o real motivo de seu desaparecimento. Você  conhece esse meu jeito de deixar o passado literalmente para trás, sem possibilidade alguma de recaída, mas procurei noticias sobre você,  por que apesar de tudo nos restou uma amizade, trincada, mas com lembranças boas.
A ultima vez que o vi, em  2010 se não me engano, estava  igual, aliás o tempo nunca passa para você, o mesmo garotão, sarado, marrento, e lindo, a  mesma maneira de falar, cantadas e xavecos baratos, e eu só  sei rir a cada palavra que você diz. Sinal que não nos resta magoa alguma, soubemos superar um relacionamento frustrado e marcados por brigas e ofensas, que prefiro não relembrar.
Meu menino, lembro do dia em que teu pai se recolheu dessa vida. Nunca havia visto um sinal de tristeza em seu olhar, mais naquele dia tu não resistiras, e como uma criança que não sabe se expressar tu disse: “Meu pai morreu, e não quero falar sobre isso.” O que eu poderia dizer então? Não sabia o que você estava sentindo naquele momento (hoje eu sei), só pude te abraçar e dizer: “To aqui, contigo.” Momentos como esse me fazem pensar que nos tornamos inesquecíveis um ao outro,  e embora o momento fosse trágico me senti honrada, pois sei o quão difícil foi compartilhar sua dor comigo. Confiou, confiou em mim. Certamente existia um sentimento recíproco de segurança entre de nós.
Tantas brigas, palavras que machucaram, feriram, desgastaram. Medo e raiva, pois quanto mais convivíamos, menos eu conhecia e entendia  você,  imaginava as barbaridades que sempre tentou esconder, você nunca quis me envolver em ‘seus lances’, como costumava dizer; porém algumas coisas eram obviais, até para uma menina imatura como eu. Tapei os olhos, passei por cima de tudo, e não me arrependo. Hoje compreendo, ou tento te compreender, e isso me comove. Ao mesmo tempo em que amedronta, e enraivece.
Não houve nenhuma ligação, como antes. Você nunca passou tanto tempo sem ligar com alguma desculpa tola, apenas para lembrar “eu existo”, eu nunca esqueci sua existência, sempre torci de longe para que tudo desse certo em sua vida, e até mesmo que encontrasse essa mulher liberal que tanto procurava, pois não era eu.
Sou romântica de mais para seu jeito livre de levar a vida. Queria alguém que estivesse comigo (apenas comigo), e você nunca escondeu que detestava essa idéia de pertencer a uma só. Porém, foi intenso. Quando estávamos juntos sentia que era único, e sabia que não teria ‘nossos momentos’ com nenhuma outra. Eu era jovem de mais, e você complicado ao extremo. Eu carregava turbilhões de perguntas e você desconversava. Eu queria arriscar num futuro incerto, você apenas viver o momento.
E vivemos os momentos, os melhores possíveis, conseguíamos nos magoar e nos perdoar logo em seguida. A sintonia era perfeita para duas pessoas completamente opostas. Foi incrível, enquanto durou.
Redes sociais, canais de busca,  celular, emails; foram inúmeros recursos  para te encontrar. Foram  quase dois anos sem nenhum sinal, nada, nem ao menos uma noticia de que você está bem ....
Nesses quase 2 anos de sumiço eu encontrei alguns amigos seus, que nunca ousaram em contar-me sobre você, covardes.
Algo começou a incomodar, senti que deveria te procurar; mulher tem dessas esquisitices, sexto sentido talvez. Queria o convidar para minha colação de grau que esta próxima, ou usaria qualquer outra desculpa, era minha vez de dizer:  “eu ainda existo”.
Acabo por encontrar o que  procurava, e honestamente o silêncio estava melhor. Se pudesse voltar atrás não teria procurado nada, pois as lembranças já me  eram  suficiente.
Menino, você continuou errando, sempre desconfiei de seus lances, mas nunca imaginei algo sério. Justo você que preservava sua liberdade como o maior bem de sua vida, hoje se encontra trancafiado, não podendo sequer saber sobre o mundo aqui fora.
Desde então tenho me perguntado o porquê de tudo isso. Nunca precisou, seu futuro sempre me parecera brilhante, e você resolve pegar trilhas mais fáceis, sabemos bem onde esses caminhos nos levam, e você nem precisou chegar ao fim da estrada para cair na pior.
Pensei em lhe fazer uma visita, mais a situação me parece muito constrangedora, então por enquanto não. Vou esperar digerir melhor sua nova condição de vida. E então irei, não sei qual será sua reação, mais a minha será sempre a mesma: “Estou aqui, contigo”.
A vida tem dessas coisas, confusões, ciladas, você foi fraco e caiu. Por tudo que consegui desvendar sobre você, sei que deve estar tremendamente arrependido, mais isso já não adianta, deve pagar pelos seus erros, e depois encarar a sociedade, e essa será cruel.  
Não vou dizer: ficarei te esperando aqui fora, clichê de mais, não combina comigo, com nós.
Repito apenas: ‘To contigo’.
Ninguém compreendeu minha fala, minhas amigas até dizem: ‘Vai apoiar um marginal.’ Mas ninguém  o conheceu como eu, ninguém compreendera o que passamos juntos, e por que existem laços fortes entre nós. È assim, meninos aprontam mesmo, o que me conforta é que após o castigo eles tendem a amadurecer.